Discussões e mar.

"Pensei que amasse todas as minhas manias. Mas parece-me que amor já não é mais suficiente para ti."

O sorriso do tormento

"As lembranças vieram em flashes, relembrando-me da minha dor – necessidade, angústia e aflição. Era um mar de desilusão."

Entre sonhos e realidade

"Tornara-me uma viciada, dependendo de cada mínima parte daquele ser irresistivelmente desejável."

Nessa linha tênue entre sonhos e realidade

"Ah! Que vontade de sonhos, de sorrisos, de ser feliz. Que vontade de uma nova realidade..."

E de sobremesa: feminismo

"Tudo parecia caminhar para o fim de encontro ideal. E, então, eles pediram a conta."

quinta-feira, 26 de abril de 2012

CH: Despedida



Seu sorriso era fundamental.
E os olhos! Com aquele preto tão profundo que desconectava o mundo ao meu redor toda vez que cometia o fatal erro de encará-los.
Havia também os cabelos macios — perfeitos para um afago carinhoso, os quais ele odiava e eu fazia por pura implicância.
E a pequena covinha... O colo que costumava ser meu travesseiro noite e dia... O nariz um pouco avantajado, o qual eu apontava como defeito, mas secretamente amava... O físico magro que ele trabalhava incessantemente para melhorar...
— Para de me analisar — pediu com um sorriso triste, que eu tratei de não registrar.
— Estou te guardando na minha mente — expliquei, tentando evitar que as lágrimas chegassem aos olhos.
— Pra quê? Se você me tem no seu coração?
Ele se aproximou, calmo como sempre, segurando em meu rosto com um carinho tão grande que, por um momento esqueci que nunca mais o veria.
— Não está me perdendo — prometeu mesmo reconhecendo a mentira deslavada que contava.
— Então por que sinto que estou?
Um último beijo. Um último abraço. Um último choque de corpos.
Afastou-se delicadamente, andando para trás cada vez mais, distanciando-se de costas conforme observava sua felicidade ficar para trás — conforme me observava ficar para trás.
— Vou te esperar.
Ele só sorriu.
Promessa infundada.
Ambos sabíamos que o fim era aquele. E, depois: um novo amor viria para colocar o nosso "para sempre" na caixinha de memórias e renovar nossa juventude.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

PS: Um sincero desabafo que nada tem a ver com amor e solidão (ou será que tem?)


Há, sim, um vazio. Não de outro alguém, porém: de mim. Há um vazio como se a real essência do meu eu houvesse ficado para trás com o passado. Esqueceu-se de caminhar ao meu lado. Há um vazio que incomoda. Se chacoalhar faz barulho, pois há um coração e só. E ele balança - jogado de um lado para o outro, sofrendo as dores que essa essência deveria amortecer. Ah! sim, como um plástico bolha.
As palavras fluem; ao menos elas resistiram aos obstáculos. De que adianta, no entanto, tê-las e não ter a vontade de pô-las em um papel? Ou tê-las somente, e não a experiência para transformá-las em algum bonito, legível, quiçá tocante?
Ah! e a paixão. Uma vez disseram-me: "pareces que sofre de amor", mas não é sofrimento de amor, não; é desamor. É falta de tudo, de sentir, de tocar, até de sofrer e fazer as pazes em seguida. Só não sei se "falta" é a palavra certa. Há como sentir saudade daquilo que nunca teve?
E a escrita parece sempre pecar com essa inexperiência. Pois posso transcrever o que vejo, mas jamais transmitir com clareza aquilo que nunca tive a oportunidade de provar. Minha base são os livros. E, nem mesmo eles têm conseguido me salvar. Deve ser meu coração impedindo aquela ânsia do conhecer para evitar sofrer. O coitado já tem tantas cicatrizes que provavelmente não aguenta mais. Mas a dor é minha companheira. Senti-la é saber que ainda vivo, apesar dos apesares.
Assim vou levando. E levantando. Caminhando para o nada, torcendo para estar no caminho certo. Vai ver eu acho o retorno e encontro aqueles sentimentos perdidos no caminho. Vai ver eu sigo em frente e conheço novos. Vai saber...

quarta-feira, 18 de abril de 2012

CH: Discussões e mar




Deixou a água tocar-lhe os pés, depois cobrir os tornozelos até chegar ao joelho. Pensou que cairia com a força da correnteza, mas a onda já se recolhia para uma nova rodada após apenas um piscar de olhos. A temperatura do oceano contrastava com o vento gelado que abatia seu corpo molhado, causando arrepios involuntários, eriçando os pelos claros, enregelando o coração. Coração sempre tão quente, tão vivo agora se despedaçava a beira mar.
— Que mania insuportável essa sua, de fugir durante as discussões.
A voz de sua (já não mais tão sua) Anita vinha de longe, mas era clara como os ocasionais relâmpagos que repartiam o céu.
— Pensei que amasse todas as minhas manias. Mas parece-me que amor já não é mais suficiente para ti.
— E desde quando amor é suficiente? E desde quando ele não é? Por que foge quando tento te explicar, quando tento te convencer que sua insegurança é infundada?
— Porque sei que ela não é.
Virou-se a contragosto, os braços ainda cruzados no peito em um semblante sério e doloroso. Sentia que a perdi a cada palavra dita — isto é, se já não a perdera completamente para o país do outro lado do oceano. Não conseguia, porém, obrigar-se a parar. Estar na defensiva era seu modo de se proteger da dor. Piada! Não conseguiria fugir da dor nem com altas doses de morfina.
— Claro que é! — Aproximou-se com a expressão em súplica, desesperada por aceitação. — Meu querido, ouça-me, é tudo que lhe peço.
— Tenho escolha?
Ignorou-o.
— Desde que me conheceu, sempre soube meu amor pelas artes. Lutei, tentei, me joguei de cabeça. E meu esforço está sendo recompensado. Mas tenho você agora, e que escolha mais complicada tinha a fazer! — Tinha? — Pois decidi, afinal, que de nada me servem as artes, sem amor. E de nada me serve amor, sem as artes. Portanto, te peço, te imploro: por favor... Venha comigo.

domingo, 15 de abril de 2012

PS: O pouco que sobrou



"Eu cansei de ser assimNão posso mais levarSe tudo é tão ruim por onde eu devo ir?"
O problema é sonhar demais. Deitar na cama e encarar o teto enquanto cria realidades alternativas. De vez em quando, elas são como contos de fadas. Logo, cansa-se da perfeição e tenta apenas moldar a realidade: você entra em cena, recriada à maneira que sempre quis ser em seu interior – mais mulher, mais confiante, mais sensual, mais inteligente; sabe sempre o que falar e não deixa a insegurança tomar-lhe conta. Atrai olhares (sabe que são para você), está rodeada por amigos (daqueles que nunca te deixam sozinha quando você menos precisa) e caminha diretamente para o cara dos seus sonhos (o mocinho dos contos tornou-se um “bad boy”), sem nem se preocupar com o que ele possa estar pensando de você (porque, na verdade, você sabe que ele não está nem mesmo conseguindo pensar). Às vezes, não tem nem príncipe encantado nem desencantado. É só você, satisfeita com sua vida, sem se preocupar se está sozinha. É você realizando seu sonho – viajando pelo mundo, casa fixa em Londres, escritora renomada.


"A vida vai seguir, Ninguém vai repararAqui nesse lugar eu acho que acabou,Mas vou cantar Pra não cair fingindo ser Alguém que vive assimDe bem"

Você sonha. E sonha. E sonha. E aproveita cada mísero momento para imaginar, perguntando-se se um dia qualquer um daqueles planos realmente acontecerá. Então alguém te acorda e você sorri, já acostumada a mascarar o desejo de vida, e diz que está tudo bem.

"Eu não sei por onde fuiSó resta eu me entregarCansei de procurar o pouco que sobrouEu tinha algum amorEu era bem melhorMas tudo deu um nóE a vida se perdeu"

Está tudo bem? Será que está realmente? Ou será que a ânsia de mudar se tornou tão insuportável que sua maior vontade é partir pra qualquer lugar onde você possa se reinventar?

"Se existe Deus em agoniaManda essa cavalaria que hoje a fé me abandonou"

domingo, 8 de abril de 2012

PS: Nessa linha tênue entre sonhos e realidade



Ah! Que vontade de conversar, saber da tua vida e até dos teus amores passados. Aqueles que vez ou outra ainda te atormentam, provocam súbitas dores que ainda há pouco pareciam adormecidas. Entristecer-me com teu sofrimento, acalentar-te e fazer-te sorrir.
Vontade de acariciar teu peito enquanto contas uma de tuas baboseiras intelectuais, as quais eu acho fascinante e me deixam ainda mais encantada por ti. Admirar teu rosto enquanto falas, perdendo-me em teus traços, admirada com tanta beleza. Essa beleza diferente, nem sempre apreciada, que, porém, conquistou todo o meu ser.
Vontade do teu corpo perto do meu, envolvendo-me como um embrulho de vidro, cuidadoso e carinhoso como és, só pra poder sentir teu calor, teu cheiro, teu sabor. Só pra ter certeza de que ainda estás comigo e não me deixarás.
Vontade de te dizer qualquer tolice e ouvir tua risada de deboche enquanto me enrubesço, afogada em vergonha por sofrer tamanha humilhação perto de ti. E tu rirás ainda mais ao perceber meu estado e puxar-me-ás para mais perto, abraçando-me desta vez como se fosse uma boneca de pano, bruto e zombeteiro, só para me presentear em seguida com um de teus beijos de tirar o fôlego.
Vontade de fazer amor a noite inteira, em todos os cantos de tua casa, e estar acordada às cinco da manhã, observando o sol se despontar no horizonte, iluminando-te de maneira tão linda que superarias qualquer anjo.
Vontade de adormecer ao teu lado e não te perder de vista nem mesmo em meus sonhos. E, ao acordar, te encontrar me observando, encantado do mesmo jeito que me sinto por ti.
Ah! Que vontade de sonhos, de sorrisos, de ser feliz. Que vontade de uma nova realidade... E de você, aqui, para que nosso amor não seja imortal, somente eterno enquanto durar – e assim mesmo clichê, normal, para sermos como qualquer outro casal e únicos a nossa própria maneira.