Seu sorriso era fundamental.
E os olhos! Com aquele preto tão profundo que desconectava o
mundo ao meu redor toda vez que cometia o fatal erro de encará-los.
Havia também os cabelos macios — perfeitos para um afago carinhoso, os quais ele
odiava e eu fazia por pura implicância.
E
a pequena covinha... O colo que costumava ser meu travesseiro noite e dia... O
nariz um pouco avantajado, o qual eu apontava como defeito, mas
secretamente amava... O físico magro que ele trabalhava incessantemente para
melhorar...
—
Para de me analisar — pediu com um sorriso triste, que eu tratei de não registrar.
—
Estou te guardando na minha mente — expliquei, tentando evitar que as lágrimas
chegassem aos olhos.
—
Pra quê? Se você me tem no seu coração?
Ele
se aproximou, calmo como sempre, segurando em meu rosto com um carinho tão
grande que, por um momento esqueci que nunca mais o veria.
—
Não está me perdendo — prometeu mesmo reconhecendo a mentira deslavada que
contava.
—
Então por que sinto que estou?
Um
último beijo. Um último abraço. Um último choque de corpos.
Afastou-se
delicadamente, andando para trás cada vez mais, distanciando-se de costas
conforme observava sua felicidade ficar para trás — conforme me observava ficar para trás.
—
Vou te esperar.
Ele
só sorriu.
Promessa
infundada.
Ambos
sabíamos que o fim era aquele. E, depois: um novo amor viria para colocar o nosso "para sempre" na caixinha de memórias e renovar nossa juventude.