Discussões e mar.

"Pensei que amasse todas as minhas manias. Mas parece-me que amor já não é mais suficiente para ti."

O sorriso do tormento

"As lembranças vieram em flashes, relembrando-me da minha dor – necessidade, angústia e aflição. Era um mar de desilusão."

Entre sonhos e realidade

"Tornara-me uma viciada, dependendo de cada mínima parte daquele ser irresistivelmente desejável."

Nessa linha tênue entre sonhos e realidade

"Ah! Que vontade de sonhos, de sorrisos, de ser feliz. Que vontade de uma nova realidade..."

E de sobremesa: feminismo

"Tudo parecia caminhar para o fim de encontro ideal. E, então, eles pediram a conta."

domingo, 1 de julho de 2012

CH: Eremita



Ouvia o chilro dos pássaros e o bater de suas asas. Se fechasse os olhos e prendesse a respiração, conseguiria até mesmo descrever suas ações – o balançar de suas cabeças, o contato entre dois ou mais. Entretanto, quando abria os olhos e procurava-os com o olhar, só encontrava o nada. Vez ou outra a traseira de um deles revelava seu esconderijo. Assim que se percebiam achados, no entanto, voavam para longe, rápido o suficiente para que ela os perdesse de vista – como se fugissem de uma assombração.
Não era assombração alguma. Era apenas Rafaela (era pior, ela acreditava).
A mulher compreendia que não era sua presença que afugentava os seres daquele ambiente tão tranquilo. Era a sua aura, a nuvem negra que carregava acima de sua cabeça. Guardava dentro de si uma espécie de melancolia, da qual tentava desgarrar-se, mas parecia prender-se cada vez mais em seu corpo, como um carrapato extremamente inconveniente.
Não queria ser assim – ou viver assim. Queria livrar-se do sofrimento que havia seu peito e deixar as apreensões de lado para viver sua vida em paz, sem se preocupar diariamente com o futuro e com as possibilidades (e livrar-se da esperança que crescia como fermento, aumentava sua expectativa e puxava seu tapete com força quando sua querida companheira, a frustração, resolvia dar as caras). Havia momentos em que ela quase chegava a sentir como era essa liberdade que tanto almejava: quando saía para a faculdade ou para o trabalho, por exemplo, onde encontrava seus colegas; ela distraí-se, abstraía tudo o que rondava seus pensamentos, e permitia-se sorrir por instantes com as brincadeiras e conversas banais. Era preciso apenas distanciar-se por um momento das outras pessoas para que a dor a atingisse com tal força que se tornava quase impossível chegar a sua casa antes de afogar-se em lágrimas.
Rafaela ergueu-se do chão, saindo debaixo da sombra da árvore em que se refugiara, e deu alguns passos à frente. Parou no centro da clareira e olhou para o céu somente para sentir a ardência provocada pela luz do sol, forte, que pairava no ponto mais alto daquela imensidão azul. O dia era bonito, contrastando com o clima acinzentado dentro de si.
Gritou de supetão. Um grito tão forte que afugentou novamente os pássaros de seu habitat. Um grito tão longo que, quando terminou, ainda ecoou por alguns segundos. Um grito tão doloroso que fez várias folhas verdes se despenderem das árvores. Um grito tão intenso que lhe sugou as forças. Tombou em seguida, de fraqueza, no campo gramado. Não chorou, ou contorceu-se de dor. Expulsara todos os seus sentimentos com o berro agourento de segundos antes. Apenas observou o céu, desejando ficar ali para sempre, sem precisar levantar-se e encarar novamente aquela semivida que levava.
Os segundos arrastaram-se com dificuldade. Ela mesma sentia-se sem força para fazer qualquer movimento. Considerou ficar ali até a escuridão engoli-la por inteiro; deixar-se-ia à mercê da vida noturna da floresta, correndo até o risco de ser devorada no sentido muito além do figurado. Perguntou-se se alguém a procuraria. Preocupar-se-iam com seu sumiço? Sentiriam sua falta?
As perguntas sem resposta acumularam-se em seu peito e mente. A dúvida correu por seu corpo, corroeu suas entranhas.
Pagaria pra ver.
Então ficou.
E ficou...